domingo, 2 de junho de 2013

cortes...

acho que este é o assunto sobre o qual menos gosto de falar, talvez porque prometi a mim mesma que não ia voltar a fazê-lo.
mas preciso de desabafar, preciso de deitar cá para fora tudo o que senti ao longo destes 4 anos.
comecei por causa dele, porque o amava demais e não aguentava imaginá-lo com outra.
é difícil, sabes ?
seres da turma da pessoa que amas e não poderes dizer-lhe, porque sabes que ele gosta de uma das tuas melhores amigas. é difícil vê-lo a tentar ser feliz com ela e tu ali, à espera que ele se lembre que tu existes. eu fiz coisas por ele que nunca pensei fazer por ninguém. eu amei-o com todas as forças que tinha. mas acabei por me afastar dele. foi das decisões mais difíceis que tive que tomar na minha vida, porque não é qualquer um que se afasta da pessoa que ama. eu passei tantos momentos com ele. nós riamos juntos e chorávamos juntos. nós contámos coisas um ao outro como se fossemos melhores amigos e acho que foi por isso que me apaixonei por ele. ele era a pessoa que mais me fazia feliz e eu amava-o como nunca tinha amado ninguém. mas eu precisa de tempo para pensar se queria continuar a lutar por uma pessoa que não me amava. eu afastei-me dele. nem sei como é que consegui, porque nós éramos da mesma turma e eu tinha que o ver todos os dias. mas a verdade é que o esqueci. e digamos que os cortes ajudaram. a partir do momento em que percebi que ele nunca me ia amar, comecei a cortar-me.
lembro-me perfeitamente de como foi o meu primeiro corte. estavam todos a dormir e eu só conseguia pensar nele. por isso levantei-me, fui à cozinha e peguei numa faca. depois voltei para o meu quarto e fui à casa-de-banho. o primeiro corte ardeu. depois, fiquei a ver o sangue a escorrer-me pelo braço abaixo e pensei "mas o que é que tu estás a fazer ?". lembro-me de me ter levantado, de ter lavado a faca e de a ter voltado a ir pôr na cozinha. depois voltei para casa-de-banho e pus o braço debaixo de água, até o sangue parar de correr. depois fiz outro corte, paralelo ao que já tinha feito, mas desta vez não foi com uma faca, foi com um xizato. não considero que tenha sido uma tentativa de suicídio porque os cortes não foram nos pulsos. não me lembro bem do que aconteceu depois, mas lembro-me de ter acordado de manhã com uma dor horrível no braço.
sei que isto dito assim faz com que eu pareça uma psicopata ou uma coisa parecida, mas não sou.
ver o sangue a escorrer-me pelos braços não foi a coisa mais agradável do mundo, até porque eu odeio ver sangue. mas sentir a pele a latejar foi a coisa mais libertadora que alguma vez senti. o problema veio a seguir. esconder cortes não é fácil, muito menos se forem nos braços. era verão quando isto aconteceu e houve pessoas que acabaram por saber. ao contrário do que eu esperava, elas apoiaram-me, mas fizeram-me prometer que não o voltava a fazer.
a verdade é que não consigo. fiz uma promessa e pela primeira vez na minha vida, não a cumpri.
ainda hoje continuo a cortar-me. à 1 ano namorei com um rapaz. conhecêmo-nos na escola e desde esse dia começámos a falar bué e eu apaixonei-me por ele, pela pessoa que ele era. lembro-me de tudo. da nossa primeira conversa, da primeira mensagem, do nosso primeiro beijo, de tudo! eu cortava-me quando o conheci e continuei a fazê-lo quando começámos a namorar. mas eu não tinha razões para isso, porque nós gostávamos um do outro. houve um dia em que ele viu as marcas nos meus braços e perguntou-me o que era aquilo. eu estava farta de lhe mentir, a ele e a todas as pessoas que me perguntavam o que era aquilo. por isso contei-lhe. ele ficou perplexo a olhar para mim e perguntou-me porque é que eu fazia aquilo. acho que essa foi a pergunta mais complicada de responder que me fizeram. eu estava bem com ele, não estava mal com nenhum amigo meu e as minhas notas eram boas, por isso eu não tinha razões para o fazer. ou pelo menos era o que eu pensava. porque uma pessoa não se corta sem ter motivos. tem de haver sempre uma razão, mesmo que tu não saibas responder a isso, no teu intimo, existe uma razão para o fazeres. e eu tentei explicar-lhe isso. não sei se ele percebeu, a única coisa que sei é que me deu na cabeça. hoje já não namoramos. aliás, nem sequer nos falamos, mas eu continuo a cortar-me e desta vez sei porque é que o faço. porque ainda o amo. sei que dizemos a todos os nossos namorados ou rapazes de quem gostamos que eles são as pessoas de quem mais gostámos. mas eu gosto mesmo dele.
sabes o que é deitares-te a pensar nele ? acordares a pensar nele ? estares na escola, veres um casal junto e pensares "eu também já estive assim com ele" ? é difícil. e a única maneira que eu encontrei de ficar mais fácil foi cortar-me. durante o verão passado e até Dezembro, não toquei uma única vez na lâmina do meu afia. mas em Janeiro desmontei-o e comecei a cortar-me de novo. desta vez não foi nos braços, foi nas pernas, porque é mais difícil de ver. mas agora vem o verão e não sei como é que o vou fazer. secalhar devia parar, mas não consigo. isto para mim é um alívio, é a única coisa que alivia a dor interior que sinto.
                                                                                                         
                                        mas também é um vício, o meu vício.

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